Data mesh na vida real: onde a teoria falha e a política começa
Por Daniel Vidigal, Fundador e CEO da Ivory.
Data mesh é bonito no white paper. Autonomia, escalabilidade, cultura de dados distribuída. Mas, e na vida real? Parece mais assembleia de condomínio com dono de cobertura batendo boca com porteiro. A promissora arquitetura descentralizada de dados escorrega onde menos se espera: na política interna.
A promessa do data mesh: descentralizar para escalar
O conceito é sedutor. Em vez de um data lake monolítico, cada time de produto vira dono do seu domínio de dados. O time de supply cuida dos dados de supply. O time de marketing, dos de marketing. E por aí vai. Todo mundo feliz, empoderado, governando seus dados como bons cidadãos da república digital.
A ideia soa moderna, ágil, escalável. Mas descentralizar não é só uma decisão técnica. É uma mudança de poder. E onde há poder, há disputa. Onde há autonomia, há a ilusão de que todo mundo está pronto para ela.
Onde a teoria falha: cultura, ego e legado
Aqui está o ponto que os gráficos não mostram: descentralização exige maturidade organizacional. Ego, silos, vaidade de squad, medo de perder controle… tudo isso grita mais alto do que qualquer arquitetura.
Alguns sintomas clássicos do data mesh mal digerido:
- Times sem skill para modelar ou expor seus dados com qualidade
- APIs de dados mal documentadas (ou inexistentes)
- Duplicidade de KPIs porque cada um mede “engajamento” do seu jeito
- Governança fingida: na teoria descentralizada, na prática um comitê central aprovando tudo
- Plataformas que viram feudos de times de engenharia
- Dados que ninguém confia, porque ninguém sabe de onde vieram nem como foram tratados
Não adianta mudar a arquitetura se a cultura continua monolítica. Data mesh não é sobre tecnologia distribuída. É sobre responsabilidade distribuída.
A verdade é dura: data mesh é mais sobre cultura do que sobre dados
Antes de discutir malha de dados, precisa discutir maturidade de time.
Quer descentralizar? Então responda:
- Seu time sabe expor dados como produto? (com owner, SLA, contrato e uso real)
- Existe um modelo de governança leve, mas efetivo
- Há um incentivo real para compartilhar, ou cada time se protege dentro do seu silozinho?
- A liderança entende que descentralizar não é abandonar, mas capacitar?
- Há uma linguagem comum sobre qualidade, confiabilidade e propósito dos dados?
O papel da liderança: arbitrar sem burocratizar
Data mesh é descentralizado, mas não é anárquico. Liderança executiva tem papel crucial:
- Definir regras do jogo: sem isso, cada time joga com um regulamento diferente;
- Investir em plataformas comuns: para habilitar a autonomia com boas ferramentas;
- Criar incentivos reais para cooperação: reconhecimento, metas cruzadas, cultura de dados;
- Medir impacto real: não basta implementar, é preciso entender o que mudou de fato.
Liderar um mesh é menos sobre tecnologia e mais sobre criar espaço para decisões responsáveis.
Não compre data mesh como produto. Compre como mudança de cultura.
Não adianta implementar data mesh com mindset de data lake. A estrutura muda, mas a bagunça continua. O problema não está na arquitetura. Está nas relações, nas prioridades, na cultura.
Se você quer fazer data mesh de verdade, prepare-se para conversar menos sobre tecnologia e mais sobre comportamento organizacional. Mais sobre pessoas, menos sobre pipelines.
Data mesh não é sobre onde os dados moram. É sobre quem cuida deles, por que, e para quem.
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