Prometer banquete e servir miojo: por que tecnologia sem intenção não sustenta o apetite do futuro
Você era um programador low-code antes mesmo do termo “low-code” sair da cabeça de algum marqueteiro em Seattle. Não sabia? Relaxa. Nem o Gartner.
Em tempos de transformação digital, liderar tecnologia exige mais do que modismos e adesão tática. Exige visão, preparo e coragem pra fazer escolhas com sabor real.
Por Daniel Vidigal, Fundador e CEO da Ivory.
Eu adoro cozinhar. Faço isso quase como terapia, mas também como forma de estar presente com quem importa. Gosto de fazer pizza e massa caseira pros meus filhos, churrasco pros amigos, e de vez em quando me arrisco num verdadeiro lamen original, nada de miojo, daqueles que vira assunto no grupo. Tem algo de muito verdadeiro em preparar comida pra quem você gosta: é preciso intuição, método e entrega. Liderar com tecnologia, pra mim, é a mesma coisa.
Todo mundo quer parecer moderno. Uns compram air fryer, outros assinam ferramenta de IA. Mas a verdade é que nem todo mundo sabe usar. E pior: muita gente ainda terceiriza a receita esperando aplauso no final. Se continuar assim, corre o risco de queimar o jantar e a reputação.
Cozinhar bem, assim como liderar com tecnologia, não é sobre seguir modinha. É sobre saber escolher os ingredientes certos, respeitar o tempo de cada coisa e ter coragem de admitir que nem tudo o que brilha é trufa branca.
Essa semana, dois assuntos me provocaram uma breve reflexão: a promessa de atrair data centers “verdes” pro Brasil e o hype em torno da inteligência artificial como se ela fosse resolver tudo com um clique. Em comum? Todo mundo falando de futuro como se fosse receita de Instagram: bonita, rasa e sem sustância.
Pronto, agora ela é legítima. Agora pode ser vendida por um executivo de alguma startup usando um PowerPoint com 60 slides. A tecnologia pode existir há 15 anos, mas só quando o Gartner fala é que ela “existe de verdade”. Antes disso? Era só bagunça de TI, gambiarra de planilha, curiosidade de nerd.
É assim que funcionam as disrupções: começam como piada, viram aposta e terminam como grandes iniciativas abraçadas por grandes players. Então, acredite: se você construiu seu primeiro sistema de controle de estoque no Lotus 123 nos anos 90, você estava na frente. Só faltava o Gartner para te dizer que aquilo era o futuro. Agora que eles disseram, aproveite e finja que sempre soube.
Data centers “verdes”: você chama pro jantar, mas esquece que não tem talher
O governo anunciou o Redata. Um plano pra atrair data centers movidos a energia renovável com incentivos fiscais. Na teoria, é o jantar dos sonhos. Mas tem um detalhe: o país ainda não terminou nem de montar a cozinha.
Falta infraestrutura, falta cadeia preparada, falta mão de obra qualificada. Falta saber o que fazer com o que está chegando. Não adianta prometer banquete se você ainda tá decidindo onde vai ligar o fogão.
Data center não é só um monte de servidor em prédio refrigerado. É uma base de futuro digital. E futuro, sem preparo, vira meme.
IA sem intenção é vinho caro em copo de requeijão
Lá nos EUA, a turma tá colocando milhões em campanhas pró-IA. Aqui, ainda tá rolando a discussão se IA rouba emprego ou só ajuda de verdade a turma do jurídico. A real é que tá todo mundo querendo usar, mas quase ninguém sabe pra quê.
Implementar IA sem saber qual decisão você quer acelerar é tipo usar um vinho premiado pra fazer sangria com Sprite. Dá pra beber? Dá. Mas você acabou de desperdiçar algo valioso porque não teve coragem de pensar o uso com intenção.
E é aqui que os dois assuntos se conectam. De que adianta trazer infraestrutura de ponta se você não tem clareza de onde quer chegar?
Não basta atrair a cozinha mais moderna do mundo, tem que saber cozinhar. E não basta contratar IA. Tem que saber qual problema ela resolve.
Se você lidera, pare de terceirizar o cardápio
Tecnologia não é assunto de TI. É assunto de liderança. E quem lidera não pode mais se esconder atrás de buzzword e fornecedor premium.
Quer servir algo que as pessoas lembrem? Entenda o que está no prato. Prepare o ambiente. Escolha o que entra e o que sai. E, principalmente, pare de seguir receita pronta achando que vai impressionar.
No fim, a diferença entre o futuro que alimenta e o futuro que empapuça está em quem decide o menu.
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